Os livros digitais, ou e-books, oferecem uma série de conveniências. São, em geral, mais acessíveis financeiramente do que suas versões físicas e proporcionam a vantagem de transportar uma vasta coleção para qualquer lugar. Entretanto, é crucial considerar algumas desvantagens antes de investir significativamente na construção de uma biblioteca digital.
1. A Natureza das Aquisições: Licenças, Não Propriedade
O Kindle, da Amazon, lidera o mercado de leitores digitais, e sua loja virtual domina as vendas de e-books. Contudo, a Amazon não vende livros propriamente ditos. Em vez disso, a empresa comercializa licenças para acessar uma versão digital de um livro em dispositivos ou aplicativos autorizados.
Essa licença é passível de revogação, o que significa que a Amazon pode remover um livro do seu dispositivo sem o seu consentimento. A empresa já enfrentou controvérsias sobre esse assunto no passado, como relatado no The New York Times.
Essa prática não é exclusiva da Amazon. Varejistas como Barnes & Noble, Kobo, Apple e Google adotam modelos semelhantes. A menos que um vendedor especifique a venda de e-books sem DRM (Digital Rights Management), a compra é, na verdade, uma aquisição de licença.
2. A Falta de Presença Física: Livros Como Elementos Decorativos
Livros físicos transcendem a função de leitura, agregando caráter a ambientes. Um escritório doméstico com uma luminária e uma estante repleta de livros irradia uma atmosfera acolhedora, quase de biblioteca. A ausência desses elementos pode tornar o mesmo espaço impessoal, assemelhando-se a um simples local de trabalho.
Livros digitais podem criar uma grade visualmente agradável na tela, mas raramente são exibidos para outros. Em leituras em dispositivos móveis, essa grade se torna indistinguível de outras coleções digitais, como aplicativos, programas de TV ou podcasts.
3. Compartilhamento Limitado: A Barreira da Licença Digital
Em lares com mais de um morador, livros físicos em estantes são acessíveis a todos. No caso de e-books, as licenças podem restringir o compartilhamento. Mesmo quando permitido, o processo é geralmente complexo, demandando a criação de contas adicionais, como no compartilhamento de livros Kindle entre familiares.
Além de familiares, amigos e colegas podem desejar acessar seus livros. O empréstimo de livros físicos é uma prática comum, ao passo que o compartilhamento de e-books envolve a instalação de aplicativos e, muitas vezes, não atrai todos os leitores. Adicionalmente, a menos que você e seus amigos participem de redes sociais dedicadas a amantes de livros, é difícil ter uma visão clara do acervo digital de cada um.
4. O Desafio da Concentração: Distrações Digitais
Smartphones, tablets e computadores são dispositivos multifuncionais, e essa diversidade pode se tornar um obstáculo à imersão na leitura. Notificações de outros aplicativos interrompem a concentração durante a leitura. Mesmo em leitores de e-ink dedicados, a facilidade de alternar entre títulos pode dificultar a profundidade da experiência. A vasta escolha disponível pode gerar indecisão e prejudicar a concentração.
5. O Impacto no Comércio Local: Dificuldade em Apoiar Livrarias Independentes
Para muitos leitores, livrarias locais oferecem um ambiente singular, distinto de grandes redes e lojas online. No entanto, a compra de e-books dificulta o apoio a essas livrarias. Embora seja possível encontrar e-books em bibliotecas públicas, a interação física e o impacto econômico do comércio local são fatores que se perdem na compra digital.
6. O Crescimento do Poder Corporativo: Fortalecimento de Gigantes da Tecnologia
Ao optar por e-books, frequentemente concentramos nossas compras em um único gigante corporativo, como Amazon ou Google. Essas empresas, que já possuem um vasto conhecimento sobre nossas vidas, adquirem ainda mais informações, que podem ser usadas para expandir sua influência. No mercado de e-books, varejistas menores, como Barnes & Noble, se tornam coadjuvantes diante de empresas de grande porte.
7. A Experiência em Livrarias Físicas: A Magia da Descoberta
Livrarias físicas e bibliotecas são locais de descobertas. A exploração das estantes, a contemplação de capas e a possibilidade de iniciar a leitura no local são experiências únicas que a navegação online não reproduz. Embora a compra digital ofereça conveniência, ela não captura a magia e o encanto do ambiente físico.
8. A Ausência de Reuso: Impossibilidade de Revenda ou Doação
Livros físicos podem ser revendidos ou doados, promovendo a circulação e liberando espaço. E-books, por sua vez, não oferecem essa opção. Ao finalizar a leitura, o arquivo é simplesmente excluído, o que não contribui para uma economia circular ou para o acesso de outras pessoas.
9. A Dificuldade de Navegação: Folhear e Anotar
E-books facilitam a leitura com ajustes de formatação, mas dificultam a navegação. Folhear rapidamente para ter uma visão geral do conteúdo se torna um desafio. Além disso, embora softwares permitam anotações digitais, muitos leitores preferem o ato físico de sublinhar e escrever nas margens.
10. O Impacto na Compreensão: Retenção e Aprendizado
Estudos indicam que a leitura de livros impressos pode resultar em melhor absorção e retenção de informações. Uma pesquisa publicada no Educational Research Review, aborda essa questão. Apesar da importância de preparar crianças para um mundo digital, a dificuldade em absorver o conteúdo da leitura digital pode questionar essa preparação. Essa consideração também se aplica a estudantes universitários, profissionais e todos que buscam aprendizado contínuo. A leitura impressa pode ser a melhor opção para quem busca reter informações de forma eficaz.
A Questão Final: Devemos Abandonar os E-books?
Em uma comparação direta, a desvantagem de abandonar e-books parece menor do que a de abrir mão dos livros físicos. Para quem nunca adquiriu um e-book, a perda não é significativa. Afinal, o conteúdo da leitura é o mais importante.
É importante considerar que alguns livros estão disponíveis exclusivamente em formato digital. Além disso, ofertas de pacotes de livros digitais podem ser atraentes. Portanto, a decisão de optar por livros digitais ou físicos depende das preferências individuais de cada leitor.