Durante um quarto de século, a maioria das pessoas, incluindo especialistas em tecnologia, tem se referido erroneamente à área de ícones no canto inferior direito da tela do Windows como a “bandeja do sistema”. Contudo, a Microsoft sempre insistiu que essa região é, na verdade, a “área de notificação”. Surge então a questão: de onde surgiu o termo “bandeja do sistema”? E por que o Windows 10, de forma aparentemente contraditória, utiliza esse termo em um único local específico?
A Denominação Correta: Área de Notificação
Ao navegar pelas configurações do Windows 10, e até mesmo em versões mais antigas como o Windows 7, Vista, XP ou 98, é notável a ausência do termo “bandeja do sistema” na interface do sistema operacional.
Nas configurações da barra de tarefas do Windows 10, acessíveis através de Configurações > Personalização > Barra de tarefas, as opções relacionadas aos ícones são claramente identificadas sob a seção “Área de notificação”.
A Influência da “Bandeja do Sistema” no Excesso de Software
Será que a distinção entre “área de notificação” e “bandeja do sistema” é realmente relevante? A resposta pode residir em uma diferença de perspectiva fundamental. Durante décadas, muitos aplicativos para desktop no Windows se aproveitaram da “bandeja do sistema” como um local para se manterem ativos em segundo plano. Isso resultou em um cenário onde, ao adquirir um novo computador, muitos usuários se deparavam com um conjunto de programas pré-instalados em execução silenciosa, muitas vezes escondidos nessa “bandeja”.
Essa situação se tornou tão comum que o Windows precisou oferecer a opção de ocultar ícones por trás de uma pequena seta para evitar que a barra de tarefas ficasse sobrecarregada. Além disso, muitos ícones são automaticamente ocultados pelo sistema. Essa área, conhecida como “área de estouro” ou “seção de estouro”, não é, de forma alguma, denominada bandeja pela Microsoft.
Essa confusão de nomenclaturas pode ser entendida se considerarmos que a “bandeja do sistema” era vista como um “depósito” onde os desenvolvedores podiam adicionar o que bem entendessem. Por outro lado, a Microsoft pretende que os desenvolvedores a encarem como uma “área de notificação”, destinada a exibir avisos e informações sobre o status dos aplicativos.
A documentação da Microsoft para desenvolvedores é bastante clara nesse ponto: a área de notificação “não se destina a fornecer acesso rápido a programas ou comandos”.
Diferentemente do ecossistema da Apple, onde os desenvolvedores são obrigados a seguir as diretrizes da empresa, a Microsoft não tem o poder de forçar os desenvolvedores a seguirem suas recomendações. No entanto, é possível que, ao adotarmos a nomenclatura “área de notificação”, os desenvolvedores se sintam menos inclinados a sobrecarregá-la com ícones.
A Origem da Confusão
Mas, afinal, por que tantas pessoas insistem em chamá-la de “bandeja do sistema”? É provável que você já tenha visto a própria Microsoft utilizar essa denominação em algum momento, certo? Será que a Microsoft realmente nunca a chamou assim?
É verdade. Ao longo dos anos, vários funcionários da Microsoft utilizaram o termo “bandeja do sistema” em diversos documentos, o que gerou desconforto na equipe responsável pelo “shell” do Windows, que é o grupo que cuida da interface da área de trabalho, incluindo a barra de tarefas.
Raymond Chen, da Microsoft, abordou essa questão em 2003. Curiosamente, mesmo após 17 anos, a confusão persiste e as pessoas continuam a se referir à área de notificação como “bandeja do sistema”.
Ao narrar a história da “bandeja do sistema”, Chen explica que as primeiras versões do Windows 95 tinham uma “bandeja” em vez de uma barra de tarefas:
Nas compilações iniciais do Windows 95, a barra de tarefas era, na verdade, uma janela de pasta ancorada na parte inferior da tela. Os usuários podiam arrastar e soltar itens para dentro e para fora dela, de forma semelhante a uma bandeja organizadora em uma gaveta. Foi dessa metáfora que surgiu o nome “bandeja”.
No entanto, a Microsoft abandonou essa ideia e a substituiu pela barra de tarefas que conhecemos hoje. Como afirma Raymond, a Microsoft removeu todas as menções à “bandeja” da documentação do shell do Windows. A “bandeja” desapareceu.
Mais tarde, a Microsoft adicionou os ícones de notificação à barra de tarefas, inserindo-os na “área de notificação”. Simples.
Então, como a palavra “bandeja” ressurgiu? Chen oferece sua melhor teoria:
Acredito que as pessoas começaram a chamar a área de notificação de “bandeja do sistema” devido à existência do programa “systray.exe” no Win95. Esse programa exibia ícones como o controle de volume, o status do PCMCIA e o nível da bateria. Se você encerrasse o “systray.exe”, esses ícones desapareciam. Consequentemente, as pessoas começaram a acreditar que o “systray” era o componente responsável por gerenciar esses ícones, e que seu nome seria “bandeja do sistema”. Assim, surgiu um equívoco que já tentamos erradicar há mais de 25 anos!
A área de notificação no Windows 95. Visualmente, ela lembra um pouco uma bandeja, não é?
Assim, as pessoas passaram a utilizar o termo errado. Mas, pelo menos, a Microsoft comunicou oficialmente o nome correto, certo? Bem, não exatamente.
O problema é que outros departamentos da Microsoft, além da equipe do shell do Windows, começaram a usar o termo “bandeja” em suas próprias documentações e exemplos, chegando até a afirmar incorretamente que “bandeja do sistema” era o nome oficial da área de notificação.
Essa é a origem da confusão. Se nem mesmo os funcionários da Microsoft conseguem usar o nome correto em suas documentações, não é de se admirar que todos os outros se confundam.
Mas essa diferença de nomenclatura realmente importa? Para o nosso propósito, não muito. O How-To Geek, por exemplo, utiliza o termo “bandeja do sistema” em diversos artigos, simplesmente porque é assim que a maioria das pessoas se refere a ela, incluindo muitos funcionários da Microsoft! No entanto, também buscamos utilizar o termo “área de notificação” sempre que possível.
Se você tiver interesse em se aprofundar no assunto, recomendamos a leitura do artigo completo de Raymond Chen. Seu blog, The Old New Thing, é repleto de informações interessantes como essa, que você não encontra em nenhum outro lugar fora da Microsoft. Por exemplo, há um artigo que explica por que o Windows armazena a hora do sistema na hora local, em vez de utilizar o Tempo Universal Coordenado (UTC), como fazem outros sistemas operacionais.
A Exceção no Windows 10
Ao explorar as configurações do Windows 10, você verá que o sistema utiliza a denominação “área de notificação” em todas as ocasiões. As configurações relacionadas a ela podem ser encontradas em Configurações > Personalização > Barra de tarefas > Área de notificação. A nomenclatura é precisa e consistente.
No entanto, há uma exceção notável: em Configurações > Facilidade de Acesso > Narrador, existe uma opção chamada “Minimizar a página inicial do Narrador na bandeja do sistema”.
O que isso nos revela? É claro que os desenvolvedores responsáveis pelo recurso de leitura de tela do Narrador trabalham separadamente da equipe que cuida do shell do Windows dentro da Microsoft.
Mesmo após 25 anos do lançamento do Windows 95, a Microsoft ainda não conseguiu padronizar o termo “bandeja do sistema” internamente. Você pode continuar chamando-a de “bandeja do sistema” se preferir, pois todos entenderão a que você se refere.
A diferença de nomenclatura realmente importa? Novamente, não muito. Mas é curioso observar essa inconsistência.
(E talvez o software para Windows tivesse um uso mais consciente se a área fosse vista apenas como um local para notificações.)
A captura de tela das configurações do Narrador utilizada neste artigo foi feita na atualização de maio de 2020 do Windows 10. Não nos surpreenderíamos se a Microsoft corrigisse essa inconsistência e removesse o termo “bandeja do sistema” em uma atualização futura. Contudo, é possível que ele reapareça em algum outro local no futuro.