“Lavaforming”: Inovação da s.ap arkitektar com Lava como Material de Construção Sustentável

Aproveitar o poder destrutivo das erupções vulcânicas para fins construtivos é a ambiciosa proposta do “Lavaforming”, um conceito arquitetónico pioneiro apresentado pela empresa islandesa s.ap arkitektar na Bienal de Arquitetura de Veneza deste ano. Esta abordagem inovadora visa transformar rocha derretida de um perigo natural em um material de construção sustentável e versátil, oferecendo uma alternativa radical aos métodos de construção convencionais e abordando preocupações ambientais prementes.

  • O “Lavaforming” é um conceito arquitetónico pioneiro da s.ap arkitektar, apresentado na Bienal de Arquitetura de Veneza.
  • Visa transformar lava derretida em material de construção sustentável, inspirando-se na erupção de Holuhraun de 2014 na Islândia.
  • Propõe uma abordagem “mono-material”, onde a lava pode gerar diversas texturas e propriedades através do controlo do arrefecimento.
  • As metodologias especulativas incluem desvio de lava por trincheiras, impressão 3D robótica e extração de magma subterrâneo.
  • Lançado em 2022 como um “experimento mental”, o projeto envolve testes de lava e colaboração científica contínua.

O paradigma do “Lavaforming” vislumbra um futuro onde a lava derretida, em vez de fluir descontroladamente, é direcionada e arrefecida de formas específicas para formar componentes estruturais como paredes e colunas para novos desenvolvimentos urbanos. Esta iniciativa surgiu de observações durante a erupção de Holuhraun na Islândia em 2014, onde a co-fundadora da s.ap arkitektar, Arnhildur Pálmadóttir, reconheceu o imenso volume de material que poderia ser reaproveitado. O projeto não é meramente um desafio tecnológico, mas uma resposta direta à significativa pegada ambiental da indústria global da construção; a produção de cimento, por exemplo, é estimada em aproximadamente 8% das emissões globais de CO2 devido aos seus processos intensivos em energia. Ao utilizar rocha derretida de ocorrência natural, que inerentemente liberta carbono para a atmosfera, a s.ap arkitektar propõe um método que evita as emissões adicionais associadas ao fabrico de materiais tradicionais.

Propriedades do Material e Aplicações Inovadoras

A versatilidade da lava como material de construção reside nas suas propriedades variadas, dependendo das taxas de arrefecimento. O arrefecimento rápido pode produzir obsidiana, uma substância dura e semelhante a vidro, enquanto a cristalização mais lenta é ótima para criar colunas robustas e elementos estruturais. A introdução de ar durante o arrefecimento rápido resulta num material semelhante à pedra-pomes, com elevadas qualidades isolantes. Isso permite uma abordagem “mono-material”, onde uma única matéria-prima, a lava derretida, pode ser processada para alcançar diversas qualidades arquitetónicas, desde blocos sólidos a placas transparentes e pedra isolante. Este conceito de manipulação controlada da lava derretida para produzir propriedades materiais variadas dentro de uma única forma nunca foi, segundo a empresa, “feito antes”.

Metodologias e Trajetória de Investigação

A s.ap arkitektar delineou três metodologias especulativas para integrar a lava na construção. A primeira envolve a conceção de redes de trincheiras nas bases dos vulcões para canalizar a lava derretida para formas pré-planeadas, criando estruturas de fundação ou alimentando fábricas para a moldagem de tijolos no local; isso também tem potencial para proteger comunidades próximas ao redirecionar fluxos destrutivos. Uma segunda abordagem, mais futurista, contempla robôs de impressão 3D a atravessar fluxos de lava ativos para “imprimir” diretamente elementos de construção, embora a tecnologia para tais sistemas autónomos ainda não esteja concretizada. O terceiro método explora o aproveitamento de reservatórios subterrâneos de magma, semelhante à extração de energia geotérmica, para direcionar a lava para câmaras controladas para componentes arquitetónicos pré-fabricados. No entanto, a segurança geológica e a viabilidade deste processo em profundidade requerem uma investigação exaustiva.

Desde o seu lançamento formal como um “experimento mental” em 2022, o projeto “Lavaforming” evoluiu rapidamente. A s.ap arkitektar tem colaborado com cientistas para desenvolver modelos sofisticados de previsão de fluxo de lava e realizar “testes de lava”, envolvendo o reaquecimento de rocha vulcânica e o arrefecimento controlado para criar protótipos de elementos de construção. Embora reconhecendo que as plenas aplicações práticas do “Lavaforming” exigem um desenvolvimento tecnológico substancial adicional, financiamento e uma aceitação social mais ampla, a empresa afirma que a colaboração científica contínua e a validação experimental estão a aumentar constantemente o realismo do conceito.

Relevância Geográfica e Impacto Visionário

A dependência inerente de processos geológicos ativos ancora a proposta do “Lavaforming” a contextos geográficos específicos. A sua viabilidade é particularmente elevada em regiões vulcânicas ativas como a Islândia, que experiencia uma erupção aproximadamente a cada cinco anos, e outras áreas geologicamente semelhantes, como o Havai e as Ilhas Canárias. Embora a rocha vulcânica, particularmente o basalto, tenha sido um material de construção tradicional durante séculos — evidente em estruturas desde o Qasr al-Azraq do século XIII na Jordânia até à Dominus Winery, desenhada por Herzog & de Meuron na Califórnia — a inovação da s.ap arkitektar reside em trabalhar com a lava no seu estado derretido. Isto distingue a sua visão dos usos históricos da rocha vulcânica extraída, impulsionando os limites da engenharia de materiais e da aplicação arquitetónica.

Em última análise, a iniciativa “Lavaforming” serve como um poderoso modelo conceptual de como a arquitetura e a gestão de recursos podem adaptar-se aos desafios ambientais globais. Ao reimaginar uma força natural destrutiva como um recurso de construção sustentável, a s.ap arkitektar visa inspirar uma reavaliação das abordagens sistémicas à emergência climática, defendendo soluções inovadoras e contextualmente específicas que poderiam redefinir o ambiente construído e o planeamento urbano para as futuras gerações.