A estrutura da internet se divide em camadas, algumas visíveis e outras ocultas nas profundezas.
É uma subestimação afirmar que a maior parte da internet opera de maneira discreta, nos bastidores.
A parte que vemos, a web de superfície, acessível e visível, representa apenas uma pequena parcela, entre 5% e 10%, do universo total da internet.
O restante é conhecido como web profunda ou web oculta. E a dark web, também chamada de darknet, constitui uma seção ainda menor, representando até 5% de toda a internet.
Fonte: commons.wikimedia.org
Para um melhor entendimento, vamos analisar o contexto.
Internet e Ferramentas de Busca
Raramente digitamos endereços de páginas da web diretamente nos navegadores. Em vez disso, o que a maioria de nós utiliza são os mecanismos de busca.
Basta inserir algumas letras e o sistema sugere automaticamente opções, permitindo selecionar o resultado desejado. É um processo fácil e eficaz.
Essa funcionalidade de pesquisa é possível graças ao rastreamento. Google, Bing, Yahoo e outros motores de busca mantêm robôs que atualizam seus registros da internet sempre que há uma nova publicação. Eles indexam esses novos conteúdos e os exibem para as buscas relevantes dos usuários.
Entretanto, nem tudo é criado para ser acessível ao público geral. Algumas páginas protegidas por senha, que pertencem à deep web, são marcadas com a tag “no-index”, o que impede que os robôs de busca as rastreiem. Outras, da dark web, utilizam protocolos específicos que os navegadores comuns (Chrome, Edge, Firefox) não conseguem acessar.
As próximas seções aprofundam esses conceitos.
O Que é a Deep Web?
A deep web é simplesmente a parte da internet que não é indexada pelos motores de busca. A maior parte dela é legal, como informações financeiras em bancos, contas de redes sociais, arquivos de e-mail, armazenamentos em nuvem, revistas acadêmicas e plataformas de streaming.
Um exemplo comum da deep web seria sua conta de e-mail. Outro seria o Netflix, acessível somente para assinantes.
Em resumo, a deep web permanece acessível aos seus respectivos proprietários, mas “fechada” para os demais. Tentar acessar sem autorização seria considerado hacking, uma atividade ilegal.
Não é um ambiente perigoso, e interagimos com a nossa parcela da deep web diariamente sem sequer perceber.
Mas o mesmo não se aplica à próxima seção da internet que vamos abordar.
O que é a Dark Web?
Como o nome sugere, ela é obscura e de difícil acesso.
Os endereços da dark web terminam com a extensão .onion, também conhecidos como sites cebola, e não com .com, .net ou .org, como os sites comuns. E, já que os navegadores normais não conseguem navegar nesses sites, é necessário utilizar ferramentas como o navegador Tor.
O navegador Tor é uma ferramenta utilizada para navegar na web de forma privada. Ele é operado por voluntários ao redor do mundo, que doam largura de banda e endereço IP para as atividades dos usuários do Tor.
O que torna a dark web arriscada e um local que devemos evitar?
Grande parte da dark web é utilizada para atividades ilegais, como a venda de drogas, armas, identidades roubadas, malware, contratação de hackers e outras atividades criminosas.
Além disso, o simples ato de navegar na dark web pode expor seu computador a malware. Governos podem monitorar essas atividades, e pessoas que demonstram interesse na dark web podem se tornar alvo de investigações policiais.
Você já ouviu falar da Rota da Seda, um famoso mercado negro online para atividades ilegais, desmantelado pelo FBI em 2013? Ele fazia parte da dark web.
Contudo, algumas partes da dark web são “padrão”, como este site do Facebook (onion):
A Meta (empresa controladora do Facebook) criou este site onion para usuários do navegador Tor, pois o site normal (facebook.com) apresentava erros. É um ambiente perfeitamente seguro dentro da dark web, assim como muitos outros sites cebola que podem ser encontrados no Google.
Alguns exemplos de sites cebola:
Facebook: https://www.facebookwkhpilnemxj7asaniu7vnjjbiltxjqhye3mhbshg7kx5tfyd.onion
NY Times: https://www.nytimesn7cgmftshazwhfgzm37qxb44r64ytbb2dj3x62d2lljsciiyd.onion
CIA: http://ciadotgov4sjwlzihbbgxnqg3xiyrg7so2r2o3lt5wz5ypk4sxyjstad.onion/
** Para acessar esses sites, é necessário utilizar o navegador Tor.
Dark Web x Deep Web
A dark web é uma parte da deep web, mas existem grandes diferenças entre elas. Vamos resumir para melhor entendimento:
| Deep Web | Dark Web |
| 90-95% da internet. | 1-5% da internet. Parte da deep web. |
| Informações pessoais ou corporativas. | Sites públicos e principalmente mercados virtuais ilegais. |
| Acessível com autenticação necessária. | Uma parte é aberta para acesso público. |
| Pouco ou nenhum risco de malware. | Infecções frequentes por malware. |
| Não indexada por mecanismos de busca. | Não indexada por mecanismos de busca. |
| A melhor forma de acesso é via autenticação. | A melhor forma de acesso é usando o navegador Tor. |
| Ex: Gmail, Dropbox, etc. | Ex: Portal cebola do Facebook, etc. |
Apesar de não ser para usuários comuns, a dark web tem utilidades. Elas incluem denúncias e jornalismo de cunho sensível.
É utilizada para compartilhar informações quando governos locais agem de forma hostil ou realizam espionagem. Por exemplo, Edward Snowden usou a dark web para revelar que a NSA monitorava cidadãos americanos, mesmo sem antecedentes criminais.
O que se seguiu a essa revelação já foi amplamente coberto pela mídia, portanto não será necessário repetir. Mas, o caso exemplifica: é bom saber usar a dark web em momentos de necessidade.
Como Acessar a Dark Web com Segurança?
Comecemos com um aviso: não há 100% de segurança na internet. Nenhum especialista em segurança cibernética pode garantir isso sem mentir. Apesar de tudo que for dito neste guia, em casos raros, suas atividades podem ser rastreadas e isso pode ter consequências futuras.
Se você pretende acessar o lado obscuro da internet por razões próprias, veja algumas dicas:
#1. Anonimato
O Tor é um bom começo, mas o ideal são sistemas operacionais dedicados e seguros, como Tails, Subgraph, Kodachi, Whonix, entre outros.
Esses sistemas encaminham todas as requisições, e não apenas as de navegação, por meio do protocolo Tor, o que garante maior proteção. Além disso, recursos como sandboxing de aplicativos e eliminação de dados ao desligar o computador também estão inclusos em determinados sistemas operacionais.
#2. Proteção Extra
Considere usar uma VPN antes de se conectar à rede Tor. Existem várias opções, mas a ProtonVPN é uma boa escolha (com versão gratuita).
É importante notar que o Tor funciona bem por si só, e ao usar uma VPN adicionalmente, estamos apenas adicionando outra camada de segurança e ocultando o fato de que você está usando o Tor. Ele é um protocolo pouco usual, e o uso em si pode chamar a atenção.
#3. Identidade Separada
Nesse ponto, você já tem as ferramentas básicas para explorar a dark web. Mas é preciso mais se você quiser participar ativamente.
É necessário usar uma identidade online separada da sua atual. E-mail, número de telefone e meios de pagamento anônimos. A lista pode ser longa, dependendo do seu objetivo.
Há instruções disponíveis na web para criar identidades anônimas, mas abordar tudo aqui desviaria o foco do artigo. O importante é: não use nada que possa ser vinculado à sua identidade real.
O ideal é criar uma identidade anônima para cada incursão substancial na dark web. Mas uma única identidade é suficiente se forem visitas informativas.
** Alguns países (como a China) proíbem o uso do navegador Tor. Nesses casos, pesquise e aplique algumas configurações antes de usar o Tor.
** Sempre use a versão atualizada do Tor ou de sistemas operacionais seguros.
** Evite baixar arquivos e tenha um antivírus premium instalado antes de navegar na dark web.
É Ilegal Acessar a Dark Web?
Como um policial, você desconfiaria de alguém sempre presente em cenas de crime?
O mesmo acontece com a dark web. Ela é usada para atividades ilegais, e alguns governos monitoram a dark web de perto por razões óbvias.
Embora não seja ilegal acessar a dark web, isso o torna único. Se você não estiver bem disfarçado, pode ser chamado pelas autoridades para explicações.
Por exemplo, a Universidade de Harvard recebeu uma ameaça de bomba via e-mail descartável em dezembro de 2013. O FBI identificou todos os alunos do campus que usavam o Tor naquele período. Um deles, Eldo Kim, confessou ter usado o Tor e o Guerrilla Mail para enviar as ameaças.
Em suma, o uso do Tor para acessar a dark web não é uma prática comum. E é melhor ter uma boa explicação para as autoridades caso você seja abordado.
Monitoramento da Dark Web
Na dark web, são vendidos dados como identidades roubadas, cartões de crédito, documentos pessoais, etc. Como não podemos acessar todos os sites cebola para verificar se nossos dados estão à venda, existem ferramentas de monitoramento, como as oferecidas pela NordVPN e 1Password.
NordVPN é uma VPN de alto desempenho que frequentemente recomendamos, e o 1Password é um gerenciador de senhas seguro que já avaliamos em detalhes. Ambas são excelentes ferramentas.
O monitoramento da dark web é um recurso comum em muitas VPNs, gerenciadores de senhas e softwares antivírus. Caso essas opções não sejam suficientes, pesquise outras ferramentas, verificando a lista de funcionalidades antes de escolher.
Um Resumo Importante!
A dark web é realmente perigosa. Criminosos, policiais e outros grupos podem monitorar quem a acessa. Além disso, o risco de malware é sempre presente nesse território.
A deep web é a parte oculta da internet, que é pessoal e acessível aos seus proprietários.
A distinção entre deep web e dark web foi feita, e os perigos de explorar a segunda foram destacados.
PS: Algumas ferramentas de investigação da dark web a serem observadas.