A busca por vida extraterrestre representa um dos empreendimentos científicos mais profundos da humanidade, com o potencial de remodelar nossa compreensão do universo. Nesta busca monumental, as missões Viking da NASA a Marte em 1976 destacam-se como a única tentativa direta de detetar atividade biológica na superfície de outro planeta, um empreendimento ambicioso cujas descobertas ambíguas continuam a alimentar o debate científico e a moldar a pesquisa astrobiológica décadas depois.
Em 1975, a NASA lançou as naves espaciais gémeas Viking 1 e Viking 2, cada uma composta por um orbitador e um módulo de aterragem. Após as suas bem-sucedidas aterragens suaves em 20 de julho de 1976 e 3 de setembro de 1976, respetivamente, os módulos de aterragem Viking iniciaram uma investigação científica abrangente de Marte. Além da busca primária por bioassinaturas, estas missões foram equipadas para capturar imagens, monitorizar as condições atmosféricas, analisar a composição química da superfície e da atmosfera, e conduzir estudos geológicos, proporcionando uma visão sem precedentes do ambiente marciano. Estas aterragens históricas marcaram a primeira nave espacial operacional da humanidade a pousar com sucesso noutro planeta, uma maravilha da engenharia que cativou a atenção global, como evidenciado pela cobertura de primeira página do *The New York Times* da primeira fotografia marciana.
Os dados recolhidos pela Viking revolucionaram a compreensão da atmosfera e da superfície marcianas. As observações revelaram evidências de uma atmosfera anteriormente mais densa, agora em grande parte perdida, e o papel omnipresente do vento na mobilização de poeira, conferindo ao planeta o seu característico céu rosado. Além disso, a Viking identificou variações sazonais significativas na pressão atmosférica da superfície, diretamente ligadas à sublimação e condensação do gelo de dióxido de carbono nos polos marcianos. Este processo dinâmico, onde o CO₂ transita entre os estados sólido e gasoso, influencia fundamentalmente a densidade e a circulação atmosférica do planeta.
A Busca por Vida Marciana: Os Experimentos de Biologia da Viking
O cerne dos esforços de deteção de vida da Viking baseou-se em três sofisticados experimentos de biologia. Cada experimento isolou amostras de solo marciano em câmaras esterilizadas, introduzindo nutrientes específicos e monitorizando as mudanças na composição atmosférica que indicariam atividade metabólica. O uso de isótopos radioativos nos nutrientes permitiu aos cientistas rastrear precisamente as reações bioquímicas.
O experimento de Liberação Marcada (LR) injetou uma solução nutritiva contendo carbono radioativo no solo. Curiosamente, este experimento detetou uma liberação temporária de dióxido de carbono radioativo, um resultado consistente com a respiração biológica. No entanto, esta descoberta contrastou com os resultados dos outros dois experimentos.
O experimento de Troca Gasosa (GEX) expôs o solo a várias condições de nutrientes (molhado, húmido, seco) dentro de uma câmara preenchida com hélio, monitorizando a produção de gás. Embora o contacto inicial com nutrientes molhados tenha causado uma série de reações químicas — atribuídas à evaporação da água, reações de superóxido e quebra de moléculas de oxigénio — testes subsequentes com nutrientes frescos na mesma amostra de solo mostraram principalmente a liberação de dióxido de carbono da própria quebra dos nutrientes, e não de atividade biológica. Estas observações sugeriram fortemente que processos químicos inorgânicos estavam em ação.
Finalmente, o experimento de Assimilação de Carbono (PR) simulou a atmosfera marciana, introduzindo monóxido de carbono e dióxido de carbono radioativos no solo. Este experimento visava detetar atividade fotossintética ou quimiossintética. Tal como o GEX, os seus resultados apontaram para interações químicas não biológicas.
Coletivamente, os experimentos de biologia produziram conclusões ambíguas. Embora o experimento LR tenha fornecido sinais tentadores, embora inconclusivos, os outros dois experimentos indicaram que as mudanças observadas eram mais provavelmente impulsionadas por reações químicas inorgânicas dentro do regolito marciano. Em última análise, os principais investigadores concluíram que não havia evidências inequívocas de vida, embora a sua ausência completa não pudesse ser definitivamente descartada.
Desvendando o Enigma do Material Orgânico
Um componente separado, o experimento de análise molecular, procurou diretamente compostos orgânicos — moléculas à base de carbono essenciais para a vida conhecida — na superfície marciana. A sua surpreendente falha em detetar qualquer matéria orgânica apresentou um enigma significativo, especialmente dado que os meteoritos depositam rotineiramente materiais orgânicos nas superfícies planetárias. Os cientistas levantaram a hipótese da presença de um componente do solo capaz de degradar rapidamente a matéria orgânica.
Décadas depois, em 2008, o módulo de aterragem Phoenix da NASA forneceu uma pista crucial ao detetar altas concentrações de perclorato no solo marciano. Pesquisas subsequentes demonstraram que, quando aquecido — como ocorreu durante o experimento de análise molecular da Viking — o perclorato pode destruir eficientemente compostos orgânicos. Esta descoberta ofereceu uma explicação convincente para os resultados negativos iniciais da Viking, sugerindo que o perclorato foi provavelmente responsável pela oxidação de quaisquer moléculas orgânicas existentes antes que pudessem ser identificadas.
Reavaliação Contemporânea e o Caminho a Seguir
Os dados da Viking continuam a informar a pesquisa astrobiológica contemporânea. Notavelmente, Steven A. Benner, diretor da Foundation for Applied Molecular Evolution, propôs recentemente um novo modelo para a potencial vida atual em Marte, reavaliando as medições dos experimentos de biologia da Viking. A sua hipótese sugere que microrganismos marcianos específicos poderiam ter metabolizado o nutriente de carbono radioativo, gerando dióxido de carbono radioativo, e também poderiam exibir absorção noturna de oxigénio e expulsão de dióxido de carbono, potencialmente explicando algumas liberações de gás observadas em amostras de solo humedecido.
Embora o modelo de Benner reacenda a intrigante possibilidade de vida microbiana existente em Marte, as suas implicações sublinham a necessidade de futuras missões avançadas equipadas com instrumentos capazes de confirmar ou refutar definitivamente estas hipóteses. O legado da Viking estende-se, assim, para além das suas descobertas iniciais, servindo como um ponto de referência fundamental para a exploração científica contínua de Marte e a busca por vida para além da Terra.