A busca por soluções de energia sustentável alcançou uma nova fronteira com a ativação do primeiro local de conversão de energia das ondas em terra nos Estados Unidos, no Porto de Los Angeles. Este projeto pioneiro, liderado pela Eco Wave Power, representa um passo crucial na diversificação do portfólio energético nacional e no aproveitamento do imenso, mas em grande parte inexplorado, poder das ondas oceânicas. Embora inicialmente um projeto-piloto, sua implementação bem-sucedida pode abrir caminho para uma fonte escalável e confiável de eletricidade limpa, oferecendo um complemento estratégico às tecnologias renováveis existentes e atendendo às demandas energéticas críticas.
A instalação-piloto, situada no instituto oceânico AltaSea do porto, apresenta um conjunto de sete estruturas de aço azul fixadas a um cais não utilizado. Essas unidades aproveitam a energia das ondas oceânicas, gerando eletricidade que pode ser utilizada localmente. A ambição mais ampla da Eco Wave Power e do Porto de Los Angeles é expandir essa tecnologia ao longo de oito milhas de quebra-mar, uma implantação projetada para gerar energia suficiente para até 60.000 residências. Essa expansão tem implicações significativas para as comunidades locais, particularmente na mitigação da poluição do ar historicamente associada às operações portuárias, e para a própria independência energética do porto, conforme destacado pela cofundadora e CEO da Eco Wave Power, Inna Braverman.
Globalmente, a energia das ondas permanece uma indústria emergente, focada principalmente em pesquisa e demonstração. No entanto, seu potencial é substancial. Estimativas do Departamento de Energia sugerem que as ondas nas costas dos EUA possuem energia suficiente para atender a aproximadamente um terço das necessidades totais de eletricidade do país. Mesmo o aproveitamento parcial desse recurso poderia contribuir significativamente para as crescentes demandas de energia, particularmente aquelas impulsionadas pelos avanços na inteligência artificial. Uma vantagem estratégica fundamental da energia das ondas, conforme observado por Rémi Gruet, CEO da Ocean Energy Europe, é sua capacidade de produzir eletricidade em momentos diferentes das fontes intermitentes como eólica e solar, aumentando assim a estabilidade e a confiabilidade da rede.
O sistema Eco Wave Power opera através de um mecanismo simples, mas inovador. À medida que os flutuadores azuis balançam com as ondas, eles empurram cilindros que transmitem fluido hidráulico biodegradável através de um sistema de tubulação para tanques de armazenamento. A pressão acumulada nesses tanques aciona subsequentemente um motor, que por sua vez alimenta um gerador, produzindo eletricidade limpa. Essa tecnologia se destaca por sua pegada ambiental mínima, não exigindo aquisição de terras e reaproveitando estruturas marinhas existentes, o que permite uma geração de energia consistente e ininterrupta.
Apesar de sua promessa, a viabilidade comercial da energia das ondas ainda enfrenta obstáculos econômicos. Os custos atualmente excedem os de energias renováveis mais maduras, como solar e eólica, necessitando de subsídios semelhantes aos que impulsionaram o crescimento de setores de energia verde anteriores. No entanto, a indústria está testemunhando progresso; a primeira usina de energia das ondas comercial da Europa iniciou operações na Espanha em 2011, seguida por um sistema offshore no Havaí em 2016. Nos EUA, o apoio político está ganhando força, com o governador da Califórnia, Gavin Newsom, assinando uma legislação em 2023 para promover o desenvolvimento da energia das ondas no estado. O próprio projeto-piloto do Porto de Los Angeles recebeu financiamento parcial da Shell, ressaltando o crescente interesse corporativo.
A Eco Wave Power está buscando ativamente a expansão além de seu projeto-piloto nos EUA. A empresa identificou dezenas de locais potenciais ao longo da costa dos EUA e está envolvida em projetos internacionais, incluindo operações em Israel e iniciativas planejadas em Taiwan, Índia e Portugal. Opiniões de especialistas, como a de Andrea Copping, uma distinta pesquisadora da Universidade de Washington, afirmam a escalabilidade da tecnologia da Eco Wave Power. Embora reconheça que esses projetos ainda não são economicamente competitivos com as energias renováveis estabelecidas para todas as aplicações, Copping enfatiza seu valor como uma solução complementar, particularmente para comunidades costeiras remotas e ilhas onde as fontes de energia convencionais são proibitivamente caras. Cada implantação bem-sucedida, ela observa, serve como um marco importante na maturação deste setor energético vital.