Apple Newton: O fracasso que inspirou o iPhone – 30 anos depois

Ao explorarmos a rica história dos produtos da Apple, o Apple Newton emerge como uma figura singular. Numa época em que a Apple era primordialmente conhecida pela venda de computadores, o Newton representou uma investida audaciosa na experimentação com novos formatos.

Contudo, apesar dos esforços da Apple, o Newton permanece como uma lembrança distante de uma visão que não vingou. Mas, qual a origem do Newton? Quais eram os planos iniciais da Apple para este dispositivo inovador e por que ele não faz parte do nosso dia a dia 30 anos depois?

O Newton da Apple: a promessa de portabilidade e praticidade

O projeto do Newton nasceu em 1987, numa época em que Steve Jobs havia se desligado da empresa que fundara (embora, posteriormente, retornasse). John Sculley, então CEO, encarregou uma equipe de desenvolver um computador que se assemelhava mais a um tablet do que a qualquer outro produto existente no mercado. O objetivo era criar um dispositivo suficientemente portátil para caber na palma da mão, permitindo produtividade em movimento e com a inovação do reconhecimento de escrita manual como principal característica.

Em geral, quando se menciona o Newton, costuma-se referir ao produto de hardware chamado MessagePad, nome que evidencia a prioridade dada à escrita em tablets. Newton, na realidade, era o nome da linha de produtos da Apple que incorporava esta tecnologia, mas hoje em dia o termo é usado genericamente para designar o próprio dispositivo.

Crédito da imagem: moparx/Flickr

O intuito era criar um dispositivo que aparentasse ser mais inteligente do que um computador comum, abrindo caminho para um futuro onde a tecnologia atendesse melhor às necessidades dos usuários. A Apple criou o conceito de assistente pessoal digital (PDA) para descrever o Newton, uma sigla que acabou se perpetuando muito além da vida útil do próprio dispositivo.

Apesar do reconhecimento de escrita manual ser um recurso central e inovador para a época, o dispositivo permitia a conexão sem fio para envio de e-mails e arquivos. Além disso, oferecia funcionalidades de anotações e organização, semelhantes às de um computador, mas sem a necessidade de digitação. Também era compatível com aplicativos e jogos de produtividade de terceiros.

Para quem foi criado o Apple Newton?

A Apple direcionou o Newton diretamente para profissionais. Com recursos como anotações, escrita manual, calendário, ferramentas de organização e suporte a e-mails, o dispositivo era uma alternativa ao computador tradicional, ideal para quem precisava de mobilidade. Carregar um Newton significava, também, dispensar a necessidade de diversos cadernos, agendas e calculadoras.

Crédito da imagem: Windell Oskaya/Flickr

Um produto voltado para o público profissional também teve um preço elevado. O Newton foi lançado com um valor inicial de US$699. Ajustado pela inflação, esse valor equivaleria a cerca de $1.475 atualmente – um investimento considerável para um dispositivo que era essencialmente um bloco de notas com funcionalidades de e-mail. Apesar de existir um mercado para o Newton, o preço não era acessível, sendo este apenas um dos seus diversos problemas.

O que a Apple errou e depois acertou

A Apple descontinuou o Newton cinco anos depois, em 1998. Além do preço elevado, o produto foi prejudicado por sua reputação de reconhecimento de escrita manual inadequado. O recurso que deveria ser o diferencial do Newton acabou contribuindo para seu fim.

O Newton simplesmente não era eficiente em sua principal função: as palavras escritas com a caneta não eram convertidas com precisão para texto. A Apple lançou versões posteriores do Newton, com correções técnicas, mas o estrago já estava feito.

Crédito da imagem: raneko/Flickr

Apesar de seu fracasso, é fácil identificar a influência do Newton nos produtos da Apple atuais. O iPhone original herdou o legado que o Newton deixou para o mundo. iPhones e iPads são PDAs modernos, com funcionalidades que eram impossíveis nos anos 90.

Quando Steve Jobs apresentou o iPhone em 2007, criticou a ideia de depender de uma caneta para usar a tela. A caneta é útil para algumas tarefas, mas ele estava certo ao afirmar que ela não deveria ser um requisito – como era no caso do Newton.

A Apple também acertou na definição dos tamanhos de iPhones e iPads, que atendem a propósitos distintos. O Newton era muito grande para um telefone e muito pequeno para funcionar como um tablet completo. Além disso, os dispositivos atuais são mais acessíveis, possuem mais recursos, melhor desempenho e uma interface de usuário muito superior.

Recordando o Apple Newton

De certo modo, a queda do Newton pode ser atribuída ao fato de ter sido um conceito à frente de seu tempo. A ideia era promissora, mas a tecnologia da época não permitia sua plena realização. Apesar de não ter conquistado o público, o Newton estabeleceu as bases para a tecnologia que hoje temos em nossas mãos.