Adeus, vício em smartphones: minha experiência com um celular básico

Frequentemente, abordamos como os smartphones podem aprimorar diversos aspectos das nossas vidas. Analisamos aplicativos, compartilhamos dicas para otimizar o uso dos seus dispositivos. Hoje, porém, a abordagem será diferente. Já parou para pensar por que dependemos tanto dos smartphones? É provável que não, ou pelo menos não profundamente. Uma série de eventos recentes me levou a reavaliar minha própria dependência, resultando em algumas conclusões. Compartilho aqui a minha experiência.

A Sedução dos Aparelhos Top de Linha

Um dispositivo de ponta tem um apelo inegável. Mesmo que as atualizações sejam incrementais (especificações semelhantes, embalagens diferentes), a sensação é sempre de novidade. Cada modelo parece trazer vantagens distintas. A Samsung, em um passado recente, oferecia câmeras superiores; a HTC e a Xperia, interfaces mais intuitivas; a Nokia, designs marcantes; e o iPhone, um ecossistema de aplicativos vasto e um alto custo. Cada marca tinha um diferencial competitivo. Essa “embriaguez” tecnológica facilmente se transforma em vício, e eu me via preso nesse ciclo.

O Que Eu Estava Disposto a Abrir Mão

Com a prática de trocar de celular frequentemente, cerca de três vezes por ano, e gastando quantias consideráveis, comecei a questionar a importância real dessas funcionalidades premium. A verdade é que não me importava tanto assim. Estava investindo tempo e dinheiro em algo que, no fundo, precisava apenas para acesso à internet, WhatsApp e Evernote. O restante era um luxo dispensável.

Jogos de alta performance não eram um fator determinante. Apesar de gostar de jogar, não precisava de um celular que rodasse Asphalt 8 a 60fps. Afinal, os jogos mais populares para celular não exigem tanto poder de processamento (como Angry Birds, 2048, Flappy Bird, Where’s My Water e até Clash of Clans). A qualidade da tela também não era crucial, já que assistir filmes no celular era uma atividade esporádica. Para chegar a essa conclusão, precisei ser bastante racional e direto. Comecei, então, a busca por um aparelho que atendesse aos meus critérios mínimos.

A Escolha do Nokia X

Confesso que o Nokia X sempre me chamou a atenção. Seu design, embora simples, sempre me pareceu funcional. Sempre gostei de celulares pretos, então essa foi a minha escolha. A outra opção era a versão verde, que não me atraiu tanto. A decisão também foi influenciada pelo preço acessível e pela oportunidade de experimentar um híbrido Android/Windows Phone. Assim, o Nokia X foi o escolhido.

O Período de Adaptação

Não depositei grandes expectativas no Nokia X, o que acabou sendo bom, já que a experiência foi repleta de desafios. O modelo era dual-sim, mas o segundo slot não tinha suporte a 3G, o que gerou um certo incômodo. Ao começar a usar o aparelho, percebi a necessidade de sincronização com o Google, evitando transferências manuais de dados. Realizei o root para ter uma experiência Android mais completa, incluindo acesso aos meus contatos e progresso no Clash of Clans. A importação inicial dos contatos foi feita através de um arquivo CSV, mas a sincronização passou a ocorrer automaticamente. O sistema inclusive adicionava imagens padrão para os contatos sem foto, o que era um pequeno detalhe interessante.

A câmera era simples, como esperado. Não era terrível em boas condições de luz, mas as cores não eram precisas. O atraso na resposta ao toque também era notável, mas não impedia o uso do aparelho (pelo menos, não imediatamente).

As Deficiências

Se esta fosse a minha primeira experiência com smartphones, talvez o Nokia X tivesse me agradado mais. Contudo, vindo de um modelo top de linha, alguns problemas ficaram evidentes. Apesar de ser um aparelho básico, ele não era frágil e tinha tudo que eu precisava (e um pouco mais). Tinha entrada para cartão de memória, onde inseri um de 32 GB para armazenar músicas. Em uma semana, a ansiedade por um celular mais potente diminuiu e eu já conseguia analisar o Nokia X com mais clareza. A bateria tinha uma duração bem limitada com o Wi-Fi ativado, oferecendo apenas 24 a 36 horas de uso. O aparelho esquentava rapidamente (o que talvez fosse resultado do root) e havia atrasos na execução de aplicativos, inclusive na navegação. Em resumo, a bateria era de um aparelho top de linha e o desempenho, de um Nokia X. Às vezes, durante uma ligação, o sensor de proximidade desligava a tela e se recusava a ligar novamente, exigindo a remoção da bateria para voltar a funcionar. O aplicativo de e-mail padrão era ineficiente, exigindo que eu usasse o Gmail. Ligar para um contato não era tão simples quanto digitar o nome, exigindo alguns passos a mais. Não havia widgets, que eu precisava para usar o Evernote, o que me obrigou a escolher entre usar um launcher diferente ou simplesmente abrir mão do widget. Optei pela segunda opção.

Valew a Pena a Experiência?

Infelizmente, a resposta não é direta. Percebi que o Evernote era mais útil com o widget. Senti falta do aplicativo de mensagens do iOS, de um teclado QWERTY físico (por que esses teclados não são mais comuns?) e da facilidade para instalar aplicativos. Perdi a necessidade de pegar o celular logo ao acordar e a interação com ele se tornou uma necessidade, e não um hábito. Atendia ligações, enviava mensagens, lia e-mails; para o restante, usava o computador. Naquele momento, desejava um celular que não existia.

O Nokia X não curou o meu vício, já que ainda dependo da comunicação. No entanto, a experiência trouxe um aprendizado importante: eu dedicava mais tempo aos smartphones do que os smartphones me faziam economizar. Acredito que teria sido melhor ter escolhido um modelo mais potente, mas ainda não top de linha, como o Sony Xperia SP, ou até o Samsung Galaxy Duos (apesar de não gostar do nome).

Aconselharia um Celular de Entrada?

Sim, mas não para usuários avançados. O Nokia X é um celular indicado para quem está começando no mundo dos smartphones ou precisa apenas de acesso básico à internet. Valorizo o que ele oferece e o que ele representa. Cumpriu o que prometeu e colocou a Nokia de volta na corrida dos aparelhos Android. Seu sucesso abrirá caminho para novos celulares da Nokia com Android, o que seria ótimo. No entanto, no momento, é um pequeno passo atrás, o que é compreensível.

Conclusão

É crucial lembrar que a indústria de smartphones é um negócio. O objetivo não é facilitar a sua vida, mas vender produtos. Você não precisa de uma tela 8K, um processador de dezesseis núcleos, uma câmera de 1 gigapixel e hexabytes de armazenamento (isso se chama supercomputador). O que você precisa é de um celular que simplifique alguns aspectos da sua rotina. Em geral, todos os aparelhos de ponta atuais são essencialmente variações uns dos outros. O “melhor smartphone” não existe. Defina suas necessidades e adquira um aparelho que as atenda. Se você não utiliza recursos extras, não pague por eles. Em breve, telas curvas/flexíveis, armazenamento infinito e dispositivos vestíveis serão o padrão. É bom avaliar quais dessas novidades realmente precisa para saber o que esperar quando elas se tornarem comuns.

Em breve, publicaremos um guia sobre qual tipo de celular é ideal para você, considerando seu estilo de vida. É natural pensar que a grama do vizinho é mais verde, mas queremos que você tenha certeza de que a sua grama já está boa o suficiente antes de se preocupar com a do outro.