IUCN aprova estudo de engenharia genética para conservação da biodiversidade

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By luis

O setor de conservação está cada vez mais a ponderar o papel da engenharia genética na salvaguarda da biodiversidade, um tema que passou das margens para o centro das discussões éticas no campo. Deliberações recentes da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN) sinalizam uma mudança para a exploração destas biotecnologias avançadas como ferramentas potenciais para a preservação ecológica, embora com um apelo a uma avaliação cautelosa e caso a caso.

Navegando na Paisagem Ética da Intervenção Genética

Numa reunião significativa em Abu Dhabi, a UICN, uma rede global que compreende governos, organizações de conservação e grupos indígenas, aprovou um quadro para investigação adicional sobre a aplicação da engenharia genética para a conservação de espécies. Esta decisão, embora não seja um endosso direto, representa um movimento substancial, reconhecendo que os avanços científicos já estão a ser aproveitados em vários projetos relacionados com a conservação. Estes variam desde o desenvolvimento de mosquitos resistentes a doenças para ajudar no combate à malária, à síntese de compostos vitais de organismos como o caranguejo-ferradura para desenvolvimento farmacêutico, e até à exploração do controverso domínio da “desextinção”.

Um Novo Quadro para um Mundo em Mudança

O quadro recém-estabelecido exige uma avaliação rigorosa e específica do projeto de qualquer intervenção genética proposta. Os princípios chave incluem garantir a transparência relativamente aos potenciais benefícios e riscos, e adotar uma abordagem de precaução. Isto aplica-se a um vasto espectro de organismos, abrangendo animais, plantas, leveduras e bactérias, e abre a porta à consideração de modificações que poderiam aumentar a resiliência das espécies a fatores de stress ambiental como as alterações climáticas. Susan Lieberman, da Wildlife Conservation Society, destacou que este representa um “passo histórico”, oferecendo potencialmente novas vias para abordar as ameaças colocadas pelas alterações climáticas e doenças.

Visões Divergentes sobre Risco e Recompensa

O voto afirmativo da UICN para explorar a biologia sintética contrasta com uma proposta, aprovada por uma margem estreita, para uma moratória sobre a libertação de organismos geneticamente modificados no ambiente. Críticos, como Dana Perls, da Friends of the Earth, expressam preocupação de que existam provas insuficientes para garantir a segurança e eficácia de tais intervenções em ambientes naturais. Perls apontou especificamente para os “gene drives”, uma tecnologia destinada a espalhar rapidamente características engenheiradas através de populações selvagens, como uma aplicação de alto risco que poderia ter consequências irreversíveis para a biodiversidade.

A Força Motriz da Urgência

A crescente urgência em torno da perda de biodiversidade, exacerbada pelos crescentes impactos das alterações climáticas, parece ser um fator significativo que impulsiona os conservacionistas a considerar soluções anteriormente desagradáveis. Jessica Owley, professora de direito ambiental, observou que a vontade da UICN de se envolver com estas tecnologias reflete um sentimento de desespero, uma vez que os métodos de conservação convencionais estão a ter dificuldades em acompanhar as taxas de extinção de espécies. A influência da organização, embora não juridicamente vinculativa, carrega um peso simbólico considerável e pode moldar a política e o discurso internacionais, potencialmente abrindo caminho para futuras ações legislativas.

Ligando Inovação e Esforços de Conservação Existentes

Apesar das preocupações, os proponentes argumentam que as tecnologias genéticas emergentes podem complementar as estratégias tradicionais de conservação. Por exemplo, a Colossal Biosciences, conhecida pelo seu trabalho em projetos de “desextinção” como o renascimento do lobo-terrível, sugere que as metodologias empregadas podem ser adaptadas para ajudar espécies criticamente ameaçadas. Matt James, da Colossal Foundation, enfatiza que estes avanços tecnológicos devem ser integrados com esforços robustos de preservação de habitat para alcançar resultados de conservação significativos. Esta abordagem integrada, combinando inovação com práticas estabelecidas, é vista como essencial para combater eficazmente o declínio contínuo da biodiversidade global.