Conflito EUA-UE: Regulação Digital (DMA) e Ameaças Tarifárias de Trump Intensificam Disputa Comercial.

As relações comerciais transatlânticas enfrentam uma tensão crescente à medida que os Estados Unidos e a União Europeia divergem sobre a regulamentação do mercado digital, com um novo ponto de atrito a surgir em torno do Regulamento dos Mercados Digitais (DMA) da UE. Washington terá proposto a criação de um órgão consultivo para o DMA que incluiria representação de empresas sujeitas à sua aplicação, um conceito que a UE rejeitou firmemente. Este desacordo regulatório desenrola-se num cenário de renovadas ameaças de tarifas por parte do Presidente Donald Trump, sublinhando os elevados riscos para o comércio global e a governação tecnológica.

  • Os EUA propuseram um órgão consultivo para o DMA que incluísse empresas reguladas, proposta rejeitada pela UE.
  • O Presidente Trump anunciou uma potencial tarifa de 30% sobre bens da UE e do México, com início previsto para 1 de agosto.
  • O DMA permite multas de até 10% do volume de negócios anual global de uma empresa por não conformidade.
  • A UE considera o DMA e o DSA como expressões de soberania digital e recusa fazer concessões nas negociações comerciais.
  • Investigações recentes sob o DMA resultaram em multas para a Apple (€500 milhões) e a Meta (€200 milhões).
  • A Comissão Europeia está a preparar um pacote de simplificação digital para aliviar os encargos sobre as empresas.

A Escalada das Tensões Tarifárias

O Presidente Trump anunciou recentemente uma potencial tarifa de 30% sobre bens provenientes da UE e do México, com início previsto para 1 de agosto. A Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, prontamente afirmou o compromisso do bloco com o diálogo e uma parceria transatlântica construtiva, ao mesmo tempo que sinalizou prontidão para medidas retaliatórias caso as tarifas fossem impostas. Esta postura assertiva sublinha a determinação da UE em proteger os seus interesses económicos no meio de crescentes pressões protecionistas.

O DMA no Centro da Soberania Digital Europeia

O DMA é um pilar da estratégia digital da UE, concebido para regulamentar plataformas online dominantes e promover uma concorrência mais justa, salvaguardando os direitos dos consumidores. A não conformidade com o DMA pode resultar em penalidades substanciais, atingindo até 10% do volume de negócios anual global de uma empresa. O conselheiro sénior de Trump, Peter Navarro, caracterizou estas regulamentações digitais da UE, incluindo o DMA e o seu homólogo, o Regulamento dos Serviços Digitais (DSA), como uma forma de “guerra jurídica” (lawfare) visando os gigantes tecnológicos dos EUA. Apesar destas acusações, a UE tem declarado consistentemente que não fará concessões sobre as suas regras digitais e tecnológicas durante as negociações comerciais.

Bruxelas já opera um conselho consultivo para o DMA, composto por peritos independentes e representantes de autoridades nacionais. Contudo, esta estrutura existente é distinta da proposta dos EUA, que procura integrar representantes das próprias entidades reguladas pelo Ato. Fontes europeias indicaram que tal proposta é inaceitável, enfatizando que o quadro de aplicação do DMA não discrimina com base no país de origem de uma empresa. No entanto, a realidade de que a maioria das plataformas abrangidas pelo âmbito do DMA são de base norte-americana levou à sua interpretação através da lente de uma disputa comercial emergente.

A legislação digital tornou-se uma “linha vermelha” crítica nas negociações comerciais em curso. Os EUA percecionam o DMA e o DSA como barreiras não-tarifárias que dificultam o comércio transatlântico, enquanto a UE vê estas regulamentações, adotadas em 2022, como expressões fundamentais da sua soberania digital. A Vice-Presidente da Comissão, Teresa Ribera, afirmou inequivocamente o compromisso da UE em defender a sua soberania e a implementação das suas regras, garantindo que o bloco não será ditado quanto à sua abordagem regulatória.

Aplicação e Perspetivas Futuras

Apesar da postura firme sobre a integridade regulatória, podem existir vias para ajustes pragmáticos na implementação. De acordo com Christophe Carugati, um consultor tecnológico sediado em Bruxelas, a Comissão poderia potencialmente “abordar com flexibilidade” a aplicação do DMA através do diálogo, pausando implicitamente certas investigações para desescalar tensões. Investigações recentes de não conformidade sob o DMA resultaram, de facto, em multas, como uma penalidade de €500 milhões para a Apple por dificultar o redirecionamento de desenvolvedores e uma multa de €200 milhões para a Meta relacionada com o seu modelo de publicidade. No entanto, estes valores são notavelmente mais baixos do que as penalidades impostas sob mandatos anteriores, uma tendência que os oficiais da UE atribuem à menor duração das violações desde a implementação do DMA em 2023 e a uma mudança estratégica no sentido de priorizar a conformidade em detrimento de medidas punitivas.

Outras vias de alívio, particularmente para grandes empresas de tecnologia, poderão surgir da agenda de simplificação mais ampla da Comissão. Grandes empresas tecnológicas dos EUA, incluindo a Amazon, IBM, Google, Meta, Microsoft e OpenAI, já defenderam um Código de Conduta simplificado sobre IA de Uso Geral (GPAI). A Comissária de Tecnologia da UE, Henna Virkkunen, está atualmente a conduzir uma “verificação de aptidão digital” (digital fitness check), que deverá resultar num pacote de simplificação “omnibus” em dezembro. Esta iniciativa visa reduzir as obrigações de reporte em toda a legislação digital existente, principalmente para aliviar os encargos sobre as empresas, especialmente as pequenas e médias empresas. A extensão em que esta simplificação se estenderá a regulamentações críticas como o DMA, o DSA e o Ato de IA permanece uma questão chave. A Comissária Virkkunen tem consistentemente mantido que as leis digitais da UE são justas e equitativas, aplicando-se uniformemente a todas as empresas que operam na União Europeia, independentemente da sua origem.