Gravis PC GamePad: A Revolução dos Games para PC nos Anos 90

Na alvorada de 1992, enquanto o Super NES da Nintendo e o Sega Genesis ditavam o ritmo dos jogos em casa, a Gravis ousou trazer para o PC uma nova experiência: controles com a pegada dos consoles, através do seu inovador PC GamePad. O sucesso nas vendas foi imediato, desbravando caminhos para estilos de jogo inéditos nos computadores. Vamos relembrar o que tornou este acessório tão marcante.

O Impacto do PC GamePad

Apesar da febre da Nintendo que contagiou os EUA desde 1988 (impulsionada pelo sucesso estrondoso do NES), foi somente anos depois que o primeiro gamepad com a identidade dos consoles chegou aos computadores IBM PC. A Advanced Gravis Computer Technology, sediada na Colúmbia Britânica e já reconhecida pelos seus joysticks para PC, deu o primeiro passo com o seu Gravis PC GamePad, dotado de quatro botões.

Na época do lançamento do GamePad, os títulos de PC mais vendidos gravitavam em torno de gêneros menos focados em ação, como RPGs, aventuras, simuladores de voo e jogos de estratégia. Estes se encaixavam perfeitamente nas limitações da plataforma. Um PC típico possuía (em comparação com os consoles) uma quantidade generosa de RAM, amplo espaço em disco e um teclado/mouse para interação.

Adicionalmente, os computadores não contavam com hardware gráfico capaz de lidar com os ambientes suaves e rolantes característicos de jogos como Super Mario Bros.

Foi no território dos jogos shareware, distribuídos gratuitamente através de BBS, que a ação no estilo console começou a dar os seus primeiros passos nos PCs. O jogo de plataforma Captain Comic, com sua clara inspiração em Mario, foi um dos pioneiros e alcançou grande notoriedade em 1988.

Dois ícones do shareware: Captain Comic (à esquerda) e Commander Keen (à direita).

A editora de shareware Apogee Software aproveitou o sucesso de Captain Comic com títulos como Commander Keen (1990) e Duke Nukem (1991). Ambos tiraram partido das técnicas de codificação EGA avançadas, desenvolvidas por John Carmack, que permitiam a rolagem suave. Essas técnicas inovadoras permitiram que um PC comum emulasse a rolagem no estilo NES pela primeira vez.

Com a popularização das placas gráficas VGA e o aumento da velocidade dos processadores, que possibilitaram gráficos mais suaves, mesmo antes da aceleração por hardware, jogos com foco em ação tornaram-se mais comuns. O cenário estava, então, perfeito para a chegada de um controlador de PC com comandos direcionais digitais.

O PC GamePad conquistou o mercado, firmando-se como o padrão para jogos de PC com a essência dos consoles.

Diagrama da porta de joystick de 15 pinos do PC, presente no Manual do Adaptador de Controle de Jogo da IBM.

Antes do PC GamePad, quem quisesse usar um controle de jogo no PC, recorria a um joystick. A porta de jogos de 15 pinos era um recurso opcional, inicialmente como uma placa de expansão dedicada e, posteriormente, integrada nas placas de som. Esta era concebida para joysticks analógicos, e não para os controles digitais predominantes nos consoles da época.

Era necessário um salto de lógica e engenharia para oferecer controles digitais, com a identidade dos consoles, através de uma interface analógica. A Gravis aceitou o desafio e foi recompensada com um produto que se tornou um sucesso de vendas até o final da década de 90.

Superando as Patentes

Além das limitações do PC e das novidades nos gêneros de jogo, a demora na chegada de um gamepad ao PC pode ter sido motivada por questões de patentes. Em 1982, a Nintendo lançou o Game & Watch de Donkey Kong, o primeiro produto com um direcional em formato de cruz (D-pad).

Este D-pad comprovou que era possível compactar um controle direcional de quatro vias de maneira acessível. Um ano depois, um D-pad semelhante chegou ao Nintendo Famicom, o precursor japonês do Nintendo Entertainment System. Este design tornou-se um símbolo dos videogames domésticos.

A Nintendo detinha uma patente sobre o design do D-pad, o que obrigava outras empresas a adaptar seus projetos, para evitar problemas legais. Por exemplo, a Sega transformou o direcional de quatro vias em um círculo com quatro áreas elevadas no seu controle do Genesis.

A Gravis adotou uma abordagem semelhante com o seu PC GamePad, que também apresentava um direcional circular. Adicionalmente, incluía um pequeno joystick de plástico que podia ser aparafusado ao direcional, embora a sua utilização fosse, na prática, bastante estranha. É possível especular que este recurso tinha como objetivo evitar infringir as patentes de controladores de jogos da Nintendo.

Destaque dos recursos do Gravis PC GamePad.

Contudo, a Gravis tinha margem para inovar. O PC GamePad foi o primeiro controlador de jogos para PC a incluir quatro botões de ação. A porta de jogos do IBM PC suportava, por padrão, apenas dois botões, o que obrigava os jogos a serem programados para usufruir dos quatro botões do GamePad.

Em jogos sem suporte para os quatro botões, um botão na extremidade inferior do pad acionava os botões extras, transformando-os em versões turbo dos dois originais.

Outra inovação foi um segundo interruptor no GamePad que permitia jogar com a mão esquerda. Ao ser ativado, o GamePad podia ser rodado 180 graus, permitindo que o D-pad fosse controlado com a mão direita e os botões com a esquerda.

Com seus quatro botões coloridos e design arredondado, o PC GamePad tinha uma clara inspiração no pad do Super Famicom, mas também com algumas diferenças. Ao contrário do Super Famicom (e Super NES), o GamePad da Gravis não era simétrico. Seu design torto não era desconfortável, mas poderia ser mais ergonômico.

Os botões embutidos (uma escolha de design também possivelmente motivada por questões de patente) eram mais difíceis de pressionar.

Embora o GamePad não fosse perfeito, ele cumpriu seu papel com grande eficácia.

Os Jogos

Quais jogos eram jogados com o Gravis PC GamePad? Como já mencionado, o GamePad se destacou em jogos de plataforma shareware, como Commander Keen. Mas os jogadores logo perceberam que ele era útil em vários jogos de ação, incluindo os primeiros jogos de tiro em primeira pessoa, como Wolfenstein-3D e Doom.

Muitos jogos de computador passaram a oferecer suporte nativo ao Gravis GamePad e seus quatro botões. O controlador chegou mesmo a ser referenciado em alguns jogos. O clássico shareware Jazz Jackrabbit, da Epic Games, inclui o que parece ser um anúncio ao GamePad.

“Nós adorávamos esses gamepads para os primeiros jogos de PC”, disse Tim Sweeney, CEO da Epic Games, através de e-mail. “Por isso, os divulgamos sempre que possível e eles nos enviavam (e aos jogadores) muitas unidades gratuitas. Não me recordo se havia algum dinheiro envolvido.”

Eventualmente, chegaram ao mercado controladores mais sofisticados (como o Gravis GamePad Pro, com um design semelhante ao do PlayStation). Depois, o USB eliminou a necessidade da porta de jogos de 15 pinos.

No entanto, muitos jogadores de PC dos anos 90 guardam uma nostalgia especial pelo PC GamePad original, mesmo que alguns não tenham gostado.

O Gravis GamePad no PC Atual

A jornada dos jogos de PC com a identidade dos consoles avançou muito desde o Gravis PC GamePad. Hoje, podemos usar sem problemas os controladores Bluetooth dos principais consoles (incluindo Xbox One, Nintendo Switch e PlayStation 4) nos nossos PCs modernos. Plataformas como o Steam também tornam possível transformar nossos PCs em uma experiência semelhante à de um console.

Se você tiver um Gravis GamePad vintage (ou qualquer joystick IBM PC antigo com um conector de 15 pinos), você pode usá-lo em um PC moderno com um adaptador USB. Pode ser uma forma interessante de reviver jogos de PC antigos, se você o utilizar com o DOSBox e uma cópia de Commander Keen.

Bons jogos!