Babilônia: Ruínas lendárias atraem turistas em 2024

Foto do autor

By luis

O fascínio duradouro da Babilônia, outrora o zênite da civilização mesopotâmica e um nome sinônimo de épocas históricas, persiste apesar de seu estado atual de digna decadência. Hoje, este Patrimônio Mundial da UNESCO, ainda lutando com desafios de preservação, convida os visitantes a percorrer paisagens repletas de lendas e história tangível, desde a grandiosidade reconstruída do Portão de Ishtar até o mistério duradouro de seus famosos Jardins Suspensos. A jornada pela Babilônia não é meramente uma excursão histórica, mas um encontro profundo com os alicerces da engenhosidade humana e a marca indelével de impérios passados.

O reinado de Nabucodonosor II (605-562 a.C.) marcou um período de construção monumental e florescimento cultural na Babilônia. Seu legado é evidente nos templos colossais, palácios expansivos e formidáveis defesas da cidade, cujas inscrições continuam a proclamar seu poder. O zigurate Etemenanki, uma estrutura imponente que alguns estudiosos acreditam ter inspirado a Torre de Babel bíblica, dominava outrora o horizonte da cidade. Igualmente cativantes são as histórias dos Jardins Suspensos, descritos por cronistas antigos como um elaborado paraíso em terraços, um testemunho de técnicas avançadas de irrigação e um símbolo pungente da devoção de um rei à sua rainha, que ansiava pelas paisagens verdejantes de sua terra natal.

A interpretação arqueológica dos Jardins Suspensos permanece um assunto de discussão, com figuras como o arqueólogo iraquiano Amer Abdulrazzaq afirmando sua existência como um reflexo tangível da engenharia e arte babilônicas. Embora alguns pesquisadores proponham locais alternativos, como Nínive, o sentimento predominante entre os visitantes da Babilônia é que o próprio local estimula a imaginação, permitindo uma visualização vívida dos jardins lendários em meio às ruínas existentes. O rio Eufrates, fluindo adjacente ao local, ancora ainda mais essas visões na realidade geográfica da antiga Mesopotâmia.

Apesar de décadas de instabilidade regional, a Babilônia está experimentando um ressurgimento gradual do turismo. Em 2024, o local recebeu quase 50.000 visitantes, incluindo mais de 5.000 turistas internacionais, indicando um aumento constante em relação aos anos anteriores. Este interesse renovado sublinha a importância da Babilônia como um destino para aqueles que buscam uma conexão mais profunda com a história antiga. Para muitos, como Gianmaria Vergani, um visitante de Milão cujo fascínio de infância pelos Jardins Suspensos culminou em um sonho de uma vida realizado na Babilônia, a experiência é profundamente comovente. A preparação meticulosa de Vergani para sua visita, incluindo paradas em outros locais históricos significativos como Taq Kasra, destaca a natureza de peregrinação das viagens à Babilônia.

No entanto, a grandiosidade do local é justaposta a desafios prementes em sua manutenção e infraestrutura. Os caminhos dentro da zona arqueológica estão frequentemente cobertos de vegetação, e a presença de lixo prejudica a reverência histórica do ambiente. Instalações limitadas, incluindo escassez de banheiros e ausência de acomodações no local, exigem viagens de retorno para hospedagens distantes. A falta de sinalização clara pode levar à desorientação, complicando ainda mais a experiência do visitante. Essas deficiências são reconhecidas por funcionários locais, como Raed Hamed Abdullah, chefe da Diretoria de Antiguidades e Patrimônio da Babilônia, que aponta para pessoal de limpeza insuficiente e uma dependência da dedicação individual para a manutenção básica, ao mesmo tempo em que apela por um aumento do financiamento governamental.

A narrativa histórica da Babilônia é ainda mais complicada por seu entrelaçamento com ambições políticas modernas e conflitos militares. Durante a década de 1980, Saddam Hussein iniciou extensos esforços de reconstrução, imprimindo seu nome e imagem no local como uma reivindicação simbólica de linhagem histórica. Após a invasão de 2003, as forças americanas utilizaram o palácio de Saddam como base, levando a mais alterações e danos à integridade arqueológica da área. O impacto dessas intervenções é evidente hoje, com visitantes notando a presença de grafites e expressando preocupações sobre segurança e o potencial de roubo de artefatos.

A inscrição da Babilônia na Lista do Patrimônio Mundial da UNESCO em 2019 foi uma conquista significativa, mas não se traduziu automaticamente em preservação abrangente. Planos de desenvolvimento contínuos são frequentemente prejudicados por obstáculos burocráticos e financeiros. Consequentemente, a existência contínua do local depende fortemente dos esforços dedicados de guardiões locais e organizações internacionais. O World Monuments Fund, com o apoio de entidades como a Embaixada dos EUA, empreendeu projetos de conservação, como a restauração do Templo de Ninmakh. No entanto, a sustentabilidade a longo prazo da Babilônia depende da garantia de recursos financeiros dedicados e da promoção de uma maior conscientização pública.

Guias locais, como Hussein Hashem, de 22 anos, desempenham um papel crucial na preservação do legado da Babilônia e na promoção de uma imagem positiva do Iraque. Hashem, que estudou engenharia biomédica, agora usa seu conhecimento e paixão para educar os visitantes, enfatizando a segurança, a beleza e a rica cultura do país, muitas vezes contrariando narrativas predominantes da mídia. Apesar de sua dedicação, ele, como muitos outros, expressa preocupação com a falta de investimento e insta os visitantes a tratar as ruínas antigas com respeito. Os remanescentes físicos da própria Babilônia apresentam uma tapeçaria complexa, onde inscrições de Nabucodonosor II coexistem com as alterações feitas por Saddam Hussein, e onde o Portão de Ishtar original reside em um museu a milhares de quilômetros de distância, deixando os visitantes a contemplar uma reconstrução. Além do sítio arqueológico, a paisagem circundante oferece uma mistura de terras agrícolas, áreas residenciais e presença policial, criando um pano de fundo dinâmico para a cidade antiga. No entanto, mesmo em meio a esses contrastes, a Babilônia continua a exercer sua poderosa influência, inspirando admiração, alimentando debates acadêmicos e atraindo viajantes que levam suas histórias e uma nova apreciação pelo patrimônio do Iraque de volta ao mundo.