A perspectiva de uma extensão radical da vida humana, antes restrita à ficção científica, recentemente entrou no discurso político de alto nível quando o líder chinês Xi Jinping e o presidente russo Vladimir Putin ponderaram sobre a possibilidade de viver até os 150 anos. Esta conversa, supostamente captada por um microfone aberto, destaca um fascínio global pela longevidade extrema, mas contrasta fortemente com as visões cautelosas e frequentemente céticas predominantes na comunidade científica em relação a prazos tão ambiciosos.
Essa divergência é talvez melhor exemplificada por uma aposta de longa data entre dois proeminentes especialistas em longevidade: Steven N. Austad, da Universidade do Alabama em Birmingham, e S. Jay Olshansky, da Universidade de Illinois em Chicago. Em 2001, Austad afirmou publicamente que a primeira pessoa a viver até os 150 anos já estava viva. Olshansky, um defensor ferrenho dos limites biológicos da vida humana, contestou essa afirmação, levando a uma aposta simbólica de US$ 150, estruturada para valer US$ 500 milhões até 2150 se investida às taxas históricas de crescimento do mercado de ações. Olshansky, autor de um artigo sobre a “Implausibility of radical life extension in humans in the twenty-first century”, permanece confiante em sua posição, citando a probabilidade extremamente baixa de qualquer pessoa viva em 2000 atingir 2150.
De fato, o consenso científico alinha-se amplamente com o ceticismo de Olshansky. Pinchas Cohen, reitor da Leonard Davis School of Gerontology na Universidade do Sul da Califórnia, afirma que, embora a expectativa média de vida tenha aumentado drasticamente no último século, esse progresso decorre principalmente da redução da mortalidade precoce. Avanços como vacinas infantis e tratamentos aprimorados para doenças crônicas em adultos, como doenças cardíacas, diabetes e câncer, prolongaram muitas vidas, mas não impulsionaram significativamente o teto máximo da vida humana. A vida humana mais longa confirmada continua sendo a da francesa Jeanne Calment, que faleceu em 1997 aos 122 anos, com especialistas geralmente observando que a pessoa viva mais velha está consistentemente entre 112 e 117 anos.
Inovações médicas, embora impactantes, oferecem ganhos limitados no contexto da extensão radical da vida. Medicamentos como inibidores de SGLT2 para diabetes e fármacos antiobesidade como Ozempic e Wegovy contribuíram para prolongar vidas, mas por meros anos, não décadas. Mesmo a descoberta de variantes genéticas, como uma identificada em uma população Amish da Velha Ordem que protege contra diabetes e envelhecimento cardiovascular, demonstrou adicionar apenas cerca de 10 anos à expectativa de vida. Douglas E. Vaughan, diretor do Potocsnak Longevity Institute na Northwestern University, caracterizou a ideia de viver até os 140 anos como “ridícula”.
O conceito de substituir continuamente órgãos para alcançar a longevidade radical, uma noção também abordada pelo presidente Putin, enfrenta desafios biológicos e práticos significativos. Embora o transplante de órgãos tenha visto avanços consideráveis, está longe de ser um caminho para a vida indefinida. Como Steven Austad explica, ver o corpo humano como uma coleção de peças substituíveis, como um carro, ignora a natureza complexa e interconectada dos sistemas biológicos. Os transplantes de órgãos vêm com riscos inerentes de rejeição e o custo sistêmico de medicamentos imunossupressores. Além disso, os próprios processos celulares se esgotam com o tempo, e o sistema imunológico humano enfraquece naturalmente com a idade, exigindo intervenções como vacinas para manter a eficácia contra doenças infecciosas, como observado por Keri Althoff, professora de epidemiologia na Johns Hopkins Bloomberg School of Public Health.
Em última análise, o foco dentro da comunidade científica está cada vez mais mudando de meramente estender a expectativa de vida para aprimorar a “saúde útil” (healthspan) – o período da vida passado com boa saúde e livre de doenças crônicas. Embora a busca por viver até os 150 anos ou mais permaneça uma aspiração cativante para alguns, as realidades biológicas atuais e as capacidades médicas sugerem que os esforços são melhor direcionados para garantir uma existência mais longa, saudável e vibrante dentro dos limites estabelecidos da biologia humana.