É notável como, ao usar um smartphone, alcançar aquele efeito de foco nítido no objeto principal e um fundo suavemente desfocado, como na imagem de exemplo, se torna uma tarefa complexa – ou até mesmo simulada. Essa dificuldade surge das diferenças cruciais entre as câmeras dos smartphones e as câmeras dedicadas, de maior porte. Vamos explorar o porquê dessa distinção.
A Atração pelos Fundos Desfocados: Por Que os Fotógrafos os Buscam?
Um fundo artisticamente desfocado é frequentemente associado à fotografia de alta qualidade. Este efeito, conhecido como “bokeh”, descreve a beleza do desfoque e é comum em fotos esportivas, retratos, casamentos, cenas urbanas e vídeos do YouTube com toques artísticos.
Embora o desfoque seja marcante em certas áreas da fotografia, ele, muitas vezes, é uma consequência inevitável de ajustes técnicos, em vez de um efeito desejado em si. Em certas condições, os fotógrafos são “forçados” a ter um fundo desfocado e, assim, focam em torná-lo o mais suave possível.
Na fotografia esportiva, o fundo desfocado pode separar o atleta da multidão. No entanto, é a necessidade de altas velocidades do obturador para congelar o movimento e o uso de lentes de longo alcance que levam os fotógrafos a usar aberturas amplas, gerando o desfoque no fundo. A prioridade é capturar a ação, não necessariamente criar um fundo desfocado.
A situação se agrava na fotografia macro e de paisagens. Na fotografia macro, a extrema proximidade do objeto geralmente impede o foco completo. Imagine fotografar uma libélula e conseguir focar apenas seus olhos.
Já na fotografia de paisagem, o objetivo é ter nitidez em toda a cena, desde os objetos mais próximos até o horizonte, o que é difícil de alcançar. Por isso, ambas as áreas frequentemente requerem a técnica de empilhamento de foco.
O empilhamento de foco envolve combinar múltiplas fotos com focos ligeiramente diferentes. Fotógrafos dessas áreas se esforçam tanto para evitar o desfoque, que adicionam uma ou duas horas de trabalho extra!
Profundidade de Campo e o Efeito Desfocado
Profundidade de campo refere-se à extensão da área que aparece nítida em uma fotografia. Ela define o que estará em foco ou fora de foco em uma imagem.
Uma imagem com profundidade de campo rasa terá apenas uma pequena porção em foco, como os olhos em um retrato. Já uma imagem com grande profundidade de campo terá quase tudo nítido, como a foto do esquiador, onde tanto a neve em primeiro plano, quanto as montanhas ao fundo estão focadas.
A profundidade de campo é determinada pela distância focal da lente, sua abertura, a distância entre a câmera e o objeto e o tamanho do sensor.
Esta foto foi tirada com f/1.8.
A abertura tem um impacto direto e simples na profundidade de campo. Quanto maior a abertura, menor a profundidade de campo. Quanto menor a abertura, maior a profundidade de campo, independentemente de outras variáveis.
Esta foto foi tirada com f/5.6. Note como o fundo está mais nítido do que na imagem anterior.
De modo geral, quanto maior o objeto no quadro, menor a profundidade de campo. Para controlar isso, você pode se aproximar do objeto ou usar uma lente telefoto.
Fotos tiradas com a mesma abertura, onde o objeto aparece do mesmo tamanho, terão profundidades de campo semelhantes, independentemente da distância focal da lente.
Quando seu objeto está em frente a um canal, não importa se você está fotografando em f/1.8.
O tamanho do sensor adiciona complexidade. Um sensor menor reduz o campo de visão e faz com que o objeto pareça maior, reduzindo a profundidade de campo. Entretanto, ao ajustar a distância focal para manter o objeto do mesmo tamanho no quadro, a diminuição da profundidade de campo é compensada, e ela também aumenta.
É complexo e pouco intuitivo, mas o ponto crucial é que fotos tiradas com sensores menores têm maior profundidade de campo (e menos desfoque) do que fotos similares com sensores maiores.
A Dificuldade dos Smartphones em Desfocar Fundos
Sim… não.
Vamos analisar as câmeras do iPhone 11 Pro: três câmeras com:
- Uma ultra grande angular de 13mm, com abertura fixa f/2.4.
- Uma grande angular de 26mm, com abertura fixa f/1.8.
- Uma telefoto de 52mm, com abertura fixa f/2.0.
No entanto, essas distâncias focais podem ser enganosas. Em 52mm e f/2, você deveria facilmente conseguir um fundo muito desfocado. Então, o que está acontecendo?
Essas são distâncias focais equivalentes a full-frame, ou seja, as distâncias focais que seriam necessárias em uma DSLR profissional para obter o mesmo campo de visão. As distâncias focais reais são 1,54 mm, 4,25 mm e 6 mm.
Os sensores de 1/2,55 e 1/3,4 polegadas do iPhone 11 Pro são significativamente menores do que os encontrados até mesmo em câmeras compactas de nível intermediário. Eles são uma pequena fração do tamanho dos sensores em câmeras profissionais.
Ao usar lentes com distâncias focais extremamente curtas para alcançar campos de visão úteis em todas as três câmeras, o iPhone acaba com uma grande profundidade de campo, apesar das lentes com aberturas fixas.
O máximo de desfoque que um iPhone consegue.
Ao se aproximar muito do objeto, a distância mínima de foco das lentes se torna um problema. Elas não conseguem focar em objetos muito próximos, impedindo o close com a desejada profundidade de campo.
A Utilidade e o Desfoque
Então, por que os fabricantes não criam câmeras de smartphones capazes de alcançar uma profundidade de campo rasa? A principal razão é que, na prática, não faz muito sentido.
Tecnicamente, uma câmera com lente periscópica e um sensor maior poderia fazer isso. No entanto, essa câmera exigiria muitos compromissos e não seria tão versátil para a maioria das fotos que as pessoas tiram com seus smartphones.
Ao optar por profundidades de campo amplas (e simular o desfoque quando necessário), as câmeras dos smartphones mantêm sua incrível utilidade e versatilidade.