A computação em nuvem transformou-se em um setor de grande envergadura, com uma influência que se estende muito além do mundo empresarial. Se antes as empresas dependiam de servidores locais, hoje a nuvem oferece alternativas mais flexíveis e ágeis. Mesmo os utilizadores comuns, através de serviços como o Google Fotos e a Netflix, interagem com centros de dados remotos. Mas será que estamos à beira de outra revolução?
Sim, estamos a falar da computação de borda, um novo paradigma na área da tecnologia da informação que visa aproximar os centros de dados dos utilizadores. Esta abordagem é particularmente vantajosa para aplicações que exigem respostas rápidas, onde a baixa latência é essencial. Vamos analisar o que precisa de saber sobre esta tendência.
O Início: O Servidor Central
Para entender a relevância da computação de borda, é útil contextualizá-la historicamente. Vamos começar pelo princípio.
Antigamente, a informática empresarial era estática. Os funcionários trabalhavam em escritórios, sob luzes fortes, e fazia sentido que os seus dados e aplicações estivessem localizados nas proximidades. As empresas instalavam servidores em salas próprias ou alugavam espaço em centros de dados locais.
Com o tempo, o cenário mudou. As pessoas começaram a trabalhar mais remotamente, e as empresas expandiram-se para outras cidades e países. O servidor local tornou-se menos prático, especialmente com o aumento do uso da Internet pelos consumidores. Era desafiador para as empresas de tecnologia acompanhar a necessidade de comprar, provisionar e instalar novos servidores a cada poucos dias.
Serviços de computação em nuvem, como o Microsoft Azure e a Amazon Web Services (AWS), trouxeram soluções. As empresas podiam alugar espaço em servidores e escalar conforme as suas necessidades.
O problema com a nuvem, na sua forma atual, é a sua centralização. Embora fornecedores como Amazon, Microsoft e Google tenham centros de dados em vários locais, estes geralmente ficam a centenas ou milhares de quilómetros dos seus clientes.
Por exemplo, um utilizador em Edimburgo, Escócia, teria o centro de dados da AWS mais próximo em Londres, a cerca de 530 quilómetros de distância. Se estivesse em Lagos, Nigéria, o centro de dados da AWS mais próximo seria na Cidade do Cabo, África do Sul, a quase 4800 quilómetros de distância.
Quanto maior a distância, maior a latência. Os dados são transmitidos através de cabos de fibra ótica e, portanto, são limitados pelas leis da física.
A solução? A história parece repetir-se, trazendo os servidores mais perto de quem os utiliza.
Vivendo no Limite: A Computação de Borda
Em resumo, a computação de borda consiste em aproximar as aplicações e o armazenamento de dados de onde os utilizadores se encontram. Para grandes empresas, isso pode significar a instalação de servidores perto das suas sedes. Para os consumidores, pode traduzir-se em dispositivos IoT com capacidades de processamento local, como reconhecimento facial, evitando a dependência de serviços em nuvem.
Esta abordagem oferece várias vantagens. Primeiro, reduz o volume de tráfego de rede, o que é importante para empresas que pagam altas taxas de transferência de dados entre centros. Em segundo lugar, diminui a latência, acelerando a execução de tarefas que dependem da rapidez da rede.
Isto pode abrir caminho para novas formas de computação que exigem respostas instantâneas. Um exemplo frequente é o de uma “cidade inteligente”, onde os governos locais podem recolher dados em tempo real sobre o uso de serviços públicos ou padrões de tráfego, tomando decisões mais rápidas.
A computação de borda também tem aplicações potenciais no setor industrial, permitindo que os fabricantes recolham dados sobre equipamentos e façam ajustes rápidos, reduzindo o consumo de energia e o desgaste dos equipamentos.
Para os consumidores, a computação de borda pode melhorar experiências como os jogos na nuvem. Ao processar os gráficos perto dos jogadores, a latência pode ser reduzida, tornando a experiência de jogo online mais fluida e agradável.
O Papel do 5G
O desenvolvimento da computação de borda coincide com a expansão da conectividade 5G. Embora ainda em desenvolvimento, o 5G promete latências significativamente menores do que os padrões móveis anteriores, desempenhando um papel crucial na evolução da computação de borda.
O que isto significa? No setor da logística, veremos um maior foco em análises e dados, com camiões e carrinhas a transmitirem informações para serem analisadas em tempo real. A “agricultura inteligente” também está no horizonte, automatizando vastas áreas da produção agrícola, melhorando o rendimento e evitando o desperdício.
No lado do consumidor, a computação de borda aproxima o processamento dos dados dos dispositivos móveis, abrindo portas para experiências de entretenimento mais imersivas em áreas como realidade virtual (VR), realidade aumentada (AR) e jogos.
Claro, isto ainda é um processo em desenvolvimento. Operadoras e programadores precisam de construir a infraestrutura necessária. No entanto, quando isso acontecer, podemos esperar uma mudança de paradigma semelhante à que vimos com a chegada da computação em nuvem.