O armazenamento digital é, simultaneamente, uma dádiva e um problema. A capacidade de guardar terabytes de fotografias, documentos e outros dados em casa é notável. Contudo, essa informação pode ser mais vulnerável do que se imagina, devido a um fenômeno conhecido como deterioração de bits ou degradação de dados.
Discos Rígidos e SSDs: Uma Vida Útil Limitada
Imagine enterrar um disco rígido e um SSD juntamente com um livro numa cápsula do tempo por um século. É quase certo que o livro estará legível quando for recuperado, mas o mesmo não se pode garantir quanto ao armazenamento digital. A longevidade dos dados armazenados é, na verdade, uma incógnita.
O problema não se resume a possíveis falhas de hardware. Quer se trate de SSDs modernos ou de discos rígidos mecânicos, estes dispositivos têm uma capacidade limitada de retenção de dados quando inativos. Isso não significa que precise deixar o computador ligado toda a noite para evitar perder as suas fotografias, mas guardar um disco cheio de filmes caseiros durante décadas não é a melhor prática.
Não podemos, claro, esculpir uns e zeros em pedra. E se todos imprimissem os seus ficheiros em papel, rapidamente esgotaríamos as árvores. Então, o que fazer sabendo que o nosso armazenamento digital e os dados nele contidos têm uma vida útil finita? Basicamente, continuar a fazer o que já faz, ou deveria estar a fazer.
Como os Discos Armazenam e Degradam Dados
Os discos rígidos usam magnetismo para guardar bits de dados (os uns e zeros) em clusters. Com o tempo, estes bits podem inverter a sua polaridade, o que leva à corrupção de dados. Para mitigar este problema, os discos rígidos usam um código de correção de erros (ECC), que procura bits incorretos quando os dados são lidos. Se um erro é detectado, o disco corrige-o, se possível.
Os SSDs, por sua vez, não têm partes móveis. Usam um método diferente para armazenar bits, retendo elétrons carregados em transistores microscópicos para diferenciar entre uns e zeros, através de uma camada isolante.
Esta explicação simplificada demonstra como os dois tipos de armazenamento guardam os dados. Agora, analisemos como podem perdê-los devido à deterioração de bits. Nos discos rígidos, como já mencionado, os bits podem alterar a sua polaridade magnética. Se um número suficiente deles inverter sem correção, ocorre a deterioração de bits. Nos SSDs, a perda de dados ocorre quando a camada isolante se degrada e os elétrons escapam.
A velocidade com que a deterioração de bits acontece depende de vários fatores. Discos rígidos podem manter dados intactos por décadas, mesmo quando desligados. SSDs, por outro lado, podem perder dados em poucos anos nas mesmas condições. E em locais muito quentes, a perda de dados em SSDs pode ser ainda mais rápida.
Com energia, a história é diferente. Estes dispositivos duram até encontrarem problemas como falhas de hardware ou, no caso dos SSDs, até atingirem o limite dos seus ciclos de leitura/escrita. Perdas de dados podem também ocorrer devido a malware, corrupção de firmware, contato com líquidos, entre outros problemas aleatórios não relacionados com a deterioração de bits.
Proteção Contra a Deterioração de Bits
O que pode um utilizador precavido fazer para evitar a deterioração de bits e outras falhas de armazenamento? A resposta é, basicamente, o que os utilizadores responsáveis já fazem.
Em primeiro lugar, monitorize a integridade dos dispositivos que usa ativamente. Uma forma de o fazer é verificar o estado SMART (Self-Monitoring, Analysis, and Reporting Technology).
Estabeleça um tempo limite para manter um disco rígido ou SSD ativo. No passado, os SSDs eram considerados menos confiáveis do que os discos rígidos em uso ativo, mas essa perceção mudou. Atualmente, a maioria das pessoas pode esperar que um SSD dure quase o mesmo que um disco rígido convencional.
Como regra geral, não mantenha um dispositivo de armazenamento por mais de cinco anos. É uma estimativa aproximada, e há quem use os discos por mais tempo, até estes falharem. Se o fizer, é crucial ter uma estratégia de backup eficaz.
Para dispositivos de arquivo, se mantiver dados num disco rígido ou SSD num armário ou cofre, ligue-os e deixe-os funcionar regularmente. Isto mantém os componentes em bom estado e reduz a probabilidade de deterioração de bits ou outros problemas.
Discos rígidos devem ser ligados pelo menos uma vez por ano ou a cada dois anos para evitar que as peças mecânicas se prendam. Deve também “atualizar” os dados, copiando-os ou usando ferramentas como o DiskFresh. SSDs são mais simples; precisam apenas manter a sua carga, bastando ligá-los por alguns minutos duas vezes por ano.
Outra alternativa é usar meios de armazenamento de arquivo construídos para esse fim, como os Blu-ray M Disc da Verbatim, que supostamente mantêm dados por 1000 anos. (Claro, provavelmente já não estará por cá para comprovar essa afirmação.) Vêm com capacidades de 25 GB, 50 GB e 100 GB por disco. A velocidade de gravação é lenta, por isso prepare-se para um longo processo de arquivamento.
Seja qual for a sua escolha de arquivamento, tenha múltiplas cópias dos seus dados em locais distintos, como garantia contra a perda de ficheiros.
A Importância dos Backups
Muitos não gostam de pensar em backups, mas fazê-los é mais fácil do que nunca. A melhor estratégia de backup envolve ter três cópias dos seus dados. A primeira é a que usa no seu PC diariamente.
A segunda é uma cópia local num disco de backup, seja um disco rígido externo ou um NAS. O Windows 10 tem um recurso chamado Histórico de Ficheiros, que faz backup automático do seu PC. Há também outras ferramentas de terceiros disponíveis para criar backups. Pode, em alternativa, copiar manualmente ficheiros e pastas diariamente ou semanalmente.
Agora tem duas cópias dos seus dados. Mas se houver um incêndio, inundação ou se ambos os discos falharem, volta à estaca zero. É por isso que ter um backup externo é uma ótima ideia.
A solução mais fácil é usar um serviço de backup na nuvem, como o Backblaze. Se a privacidade for importante, muitas dessas opções permitem encriptar os seus backups para que o fornecedor do serviço não possa aceder aos seus dados. Por exemplo, o Backblaze permite criar a sua própria palavra-passe de encriptação. Se perder essa palavra-passe, perderá o acesso aos seus backups.
Ter três cópias dos seus dados em locais diferentes deve ser suficiente para evitar a perda de dados, mesmo que os discos sofram de deterioração de bits ou outros desastres.